Foi ontem.
Ao longo dos meus 16 anos de associativismo e dedicação quer a causas públicas, quer à vida partidária que entretanto fui de algum modo abraçando, ou mesmo profissionalmente através das funções que actualmente desempenho, uma das coisas que mais tenho feito é discursar e redigir documentos complexos.
Escrevo inclusivamente programas, discursos ou anotações para outrém, quase desde sempre.
Mas confesso que na vida toda até agora, o discurso que mais me custou foi o que proferi ontem na Sessão Solene do 97º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Dafundo.
Desde logo tinha dificuldades extremas:
1. Era difícil, porque após a morte do Pai não mais existiu uma Sessão Solene como esta;
2. Depois, porque a mim competia falar em nome da casa e de alguma forma retratar o seu passado, presente e futuro;
2. Depois, porque a mim competia falar em nome da casa e de alguma forma retratar o seu passado, presente e futuro;
3. Difícil também, porque era impossível não falar do Pai uma vez que ele está intimamente ligado à história dos Bombeiros do Dafundo, mas sendo eu o filho não queria ser demasiado extensivo e sim "dar espaço" a que outros o fizessem;
Mas o pior nem era isso...
Como discursar sem chorar, sem parar a meio e apetecer-me fugir dali e isolar-me em qualquer canto? Como olhar para aquelas paredes, passar pelos corredores que tantas vezes passei com o Pai, olhar para os homens e mulheres fardados, para aqueles rostos e não me "desmanchar"?
E como sentir que o meu discurso não era curto nem longo, que não falava pouco nem muito e que mais que todos os que lá estavam: eu não iria desiludir o Pai?
Se eu sabia que "ele lá estaria como sempre, porque nunca faltou a uma Sessão Solene destas e não iria faltar também a esta"... como estar à altura? Não das entidades oficiais, não dos convidados... isso para mim pouco importava. Mas como estar á altura do legado do Pai, cumprindo para mais nesta Sessão, parte das funções que ele sempre teve?
Jamais saberei se o consegui, mas sei que ver a minha Mãe por lá, o meu querido irmão Xinho e Emanuela bem como o meu sobrinho Guilherme e ter ali ao lado o Carlos Jaime que é da família... me ajudou muito a cumprir esta tarefa.
Não posso ainda esquecer o apoio do velho amigo Pedro Roque que à semelhança de tantos anos, fez questão de estar presente, tal como o Nuno Mateus que também acabou por ficar ligado aos bombeiros e por isso veio, assim como a querida Lea e mãe, cuja presença de igual forma me deu força.
Revi amigos de longa data do Pai, olhei inúmeras vezes para uma plateia comovida, rendida uma vez mais à memória de um Homem que acaba por não ser apenas Pai de mim e dos meus irmãos, mas património de tantas pessoas....
Enquanto escrevi o que escrevi, chorei muito.
Saiu-me de dentro.
E o pior é que queria ter dito mais. Tinha tanto mais para dizer... mas não podia transformar um momento de festa em que as minhas responsabilidades eram muitas, num momento apenas de catarse colectiva, numa homenagem extensiva única e exclusivamente dedicada ao meu Pai, para mais numa altura em que a memória do amigo Tó Vieira também era lembrada.
Até porque sei que existirão novas oportunidades. E irão de alguma forma ser criadas muitas outras iniciativas, até pelas conversas que tenho mantido com o meu dinâmico irmão Xinho.
e depois... porque por esta Sessão Solene uma vez mais se percebeu, que o Pai continua bem presente.
Pegando nas palavras do Presidente Isaltino: "...fala-se tanto dele, que a maioria das vezes nem me lembro que já não está vivo".
E está mesmo, Senhor Presidente! Fisicamente não, mas a sua memória é tão rica e tão viva, o seu legado é tão grandioso, os seus amigos são tantos e a família ama-o de tal forma, que não me parece que o Pai desapareça pelo menos nas próximas décadas.
Enquanto me correr uma gota de sangue nas veias: ele será lembrado.
Espero não te ter desiludido, Pai!