Recebi do amigo e Presidente da Direcção dos B V do Peso da Régua, Dr. José Alfredo Almeida, algumas fotos do Comandante Carlos Cardoso dos Santos, que foi Comandante daquela Corporação de 1959 a 1990. Enviou-me também o último discurso do Comandante Cardoso, em 1999, a propósito da atribuição do crachá de ouro pela Liga dos Bombeiros Portugueses, já no quadro honorário.
Foi no Peso da Régua que o Pai participou no 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, o 1º Congresso como Comandante dos Bombeiros Voluntários do Dafundo.
Não sei se o Comandante Cardoso e o Pai chegaram a ter algum relacionamento mais próximo, mas sei, pelo que o amigo Dr. José Alfredo Almeida me transmitiu, pelo último discurso do Comandante Cardoso, que se publica neste blogue, que os ideais dos dois eram iguais, quando diz que não os Bombeiros nada lhe devem, porque a sua acção foi pelo amor de servir o próximo, independentemente da sua côr, credo ou estatuto social.
Foi no Peso da Régua que o Pai participou no 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, o 1º Congresso como Comandante dos Bombeiros Voluntários do Dafundo.
Não sei se o Comandante Cardoso e o Pai chegaram a ter algum relacionamento mais próximo, mas sei, pelo que o amigo Dr. José Alfredo Almeida me transmitiu, pelo último discurso do Comandante Cardoso, que se publica neste blogue, que os ideais dos dois eram iguais, quando diz que não os Bombeiros nada lhe devem, porque a sua acção foi pelo amor de servir o próximo, independentemente da sua côr, credo ou estatuto social.
Durante a sessão solene do 119º aniversário da AHBV do Peso da Régua, que ocorreu no dia 28 de Novembro de 1999, o Comandante Cardoso (1959-1990) recebia a condecoração máxima da Liga dos Bombeiros Portugueses, o Crachá de Ouro.
A estrutura nacional dos bombeiros portugueses reconhecia-lhe o mérito pessoal e profissional, ao longo de 31 anos ao comando dos bombeiros da Régua, depois de ter recebido a Medalha de Prata de Mérito Municipal, em 1984, na passagem dos seus 25 anos de serviço nos bombeiros reguenses.
Na sua homenagem de despedida, com a passagem ao quadro de honra, realizada em 1990, o Eng. Álvaro Mota, propôs à Câmara Municipal a que presidia a atribuição da Medalha de Honra da Régua. Por razões que ninguém entendeu, essa distinção foi-lhe negada pela maioria dos vereadores. Perdiam a oportunidade de agradecer a um homem que tanto serviu e honrou a terra onde nasceu, trabalhou, viveu e veio a morreu.
Num artigo de opinião, o Dr. Alcides Sequeira registou a flagrante injustiça dos políticos para com o Comandante Cardoso. Era esse o sentimento de quem conhecia o lamentável sucedido, até hoje nunca corrigido. Observava e lamentava esta incompreensão, dizendo que o Comandante Cardoso teve uma homenagem merecida mas incompleta, por esta simples razão: “se a população da Régua soube agradecer-lhe os seus desinteressados serviços, a Câmara Municipal não correspondeu do mesmo modo”.
Enaltecia-lhe o ilustre causídico o seu carácter humano desta maneira: “Há homens e …homens! Há homens que olham predominante para a sua própria pessoa. São egoístas, os narcisados, aqueles que se revêem nos seus méritos, mas que os não têm e, por isso, são considerados seres …inferiores.
Há, porém, homens que só se sentem bem a praticar o bem, que trabalham para todos os outros homens, com dedicação e com o intuito de serem úteis ao corpo social em que se integram!
E quando o trabalho deles é gratuito, este desapego deixa de ser dedicação para passar a ser devoção.
Está neste último caso Carlos Cardoso dos Santos, o ex-comandante da benemérita Corporação dos Bombeiros Voluntários da Régua!”.
A ele, o caso, nem o afectou nem o diminuiu perante os seus concidadãos, que continuaram a reconhecê-lo como um homem de raras qualidades, que não trabalhou para homenagens ou benesses. Sem nunca o ouvirmos queixar-se, a desconsideração entristeceu-o. A sua vida tinha sido dedicada aos bombeiros por paixão. A simplicidade e a modéstia foram uma constante na sua vida, orientada por altos valores morais. Sabia que tinha cumprido uma missão com altruísmo. Os afectos da esposa, D. Cândida Cunha, dos familiares mais próximos e dos velhos amigos deram-lhe sempre força para viver e ser feliz.
A atribuição do Crachá de Ouro foi uma proposta da direcção presidida por José Alfredo Almeida (1998) e do comando. Mereceu o apoio incondicional de Rodrigo Félix, também seu amigo e admirador, presidente da direcção da Federação dos Bombeiros de Vila Real, que considerava o Comandante Cardoso como um dos melhores do seu tempo.
Com regozijo pela notícia da atribuição desta condecoração, o Dr. Camilo de Araújo Correia numa crónica intitulada “Um dia, nome de rua”, publicada no “Jornal de Matosinhos”, em 17 de Março de 2000, reconhecia-lhe os elevados méritos e concedia-lhe um magnífico louvor:
A notícia da atribuição do Crachá de Ouro ao Comandante Carlos Cardoso dos Santos, por parte do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses, não me surpreendeu. Teve, sim, o condão de me comover, ao ponto de cerrar os olhos por uns instantes. Instantes que chegaram para recordar 45 anos de amistosa relação com o Senhor Carlos Cardoso dos Santos.
(…)
Não conheci tão de perto o mérito do senhor Carlos Cardoso dos Santos, como devotado Comandante dos Voluntários da Régua. Mas como reguense, atento e orgulhoso dos seus Bombeiros, posso testemunhar que nunca a nossa Corporação conheceu tão áureo período de eficiência, disciplina, diplomacia e expressão humanitária.
A Liga dos Bombeiros Portugueses deixa na honrosa farda do senhor Carlos Cardoso dos Santos um crachá de ouro. Cada reguense, ao abraçá-lo, lhe deixa no peito um crachá de fraternidade e gratidão”.
Este testemunho insuspeito, por sinal de alguém que também foi presidente de direcção da associação, revela o valor do Comandante Cardoso. Conhecemos, por estes e mais depoimentos, o que tantos pensaram sobre ele. Só que pouco sabemos do que ele próprio pensou desta sua missão. Assim, como temos em mão o seu discurso manuscrito que leu na cerimónia a agradecer a distinção da Liga dos Bombeiros Portugueses, faz todo o sentido transcrevê-lo na íntegra:
“Cerca de dez anos volvidos depois da minha passagem ao quadro honorário do Corpo de Bombeiros desta Associação, sou surpreendido com a atribuição do mais alto galardão que a Liga dos Bombeiros Portugueses concede aos homens e mulheres merecedores de tal distinção.
Mas a mim, velho comandante que serviu activamente mais de 30 anos, nunca considerei a Liga devedora desta insígnia.
Quem me conhece, sabe que nos diversos cargos que desempenhei em instituições da nossa terra, nunca procurei obter homenagens ou benesses. Tive sempre a preocupação de me referir no plural às realizações levadas a cabo por essas instituições. Parece-me que nunca disse: eu, só pelo facto de ser comandante ou ser presidente. Tinha cuidado de sempre dizer: nós.
Mas aconteceu que durante o meu comando se passaram factos que serão eternos marcos no historial dos bombeiros da Régua e projectaram a associação por este país fora.
Iniciou-se o reequipamento do Corpo Activo, realizou-se a ampliação do quartel-sede, construiu-se um bairro de 36 habitações, celebrou-se com brilhantismo o centenário da fundação da Associação e a Régua foi sede do 24º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, onde se tomaram decisões que se repercutiram nos congressos seguintes.
No mês de Setembro de 1980, a Régua foi o centro das atenções do país, com o decurso de quatro dias festivos e onde se realizou uma das maiores concentrações de bombeiros de Portugal.
Até no aspecto operacional surgem no meu comando duas periódicas catástrofes que mau grado todos os esforços oficiais envolvidos ainda não se conseguiram debelar: as cheias no rio Douro e os fogos florestais.
As cheias iniciam-se, com a maior até ao presente, em 1962. A última aconteceu em 1990. Até quando?
Os fogos florestais começam também a deflagrar naquela data. A acção dos bombeiros não se poupa a sacrifícios – até de vidas – e o governo equipa o melhor possível os respectivos corpos de bombeiros mas a luta tem sido desigual. Quando terminará este flagelo?
Em todos os factos que referi fui constantemente parte activa na sua organização e execução e foi sempre minha, com a colaboração dos mais graduados, a direcção de todas as acções dos nossos gloriosos e heróicos bombeiros.
Cumpri dentro das minhas capacidades uma missão que arrebata e empolga quem a desempenha. Testemunho desta afirmação são estes homens bombeiros aqui presentes que se transformam, ao frémito da sirene ao seu chamamento, acorrem céleres e ansiosos no seu cem por um, segundo lhes ocorrer o perigo a que poderão ser sujeitos para salvar.
Como afirmei, a Liga dos Bombeiros Portugueses nada me devia. Nem tão pouco a nossa Associação. Desempenhei funções. Cumpri e quando a idade e motivos de saúde me aconselharam, solicitei passagem ao quadro honorário. Venci a dor deste gesto, mantinha a saudade serena, que está a ser acordada dolorosamente com a concessão deste galardão.
Não vou cometer a estultícia de o recusar agora, porque, apesar de tantas e gratas recordações que desperta, é para mim uma grande honra e motivo de orgulho ser possuidor desta bela insígnia.
Muito obrigado. Vivam os bombeiros da Régua”.
O Comandante Cardoso entendeu não escrever as suas memórias. Se o fizesse ter-nos-ia legado informações preciosas de três décadas de história da Associação e do Corpo de Bombeiros, essenciais para se compreender a vocação do voluntário na Régua, os planos de reequipamento com material e carros de socorro, os apoios dos beneméritos, os modelos de formação e a evolução do movimento associativo e da estrutura operacional.
Apenas deixou escrito este testemunho, um resumido balanço dos objectivos conseguidos nos seus anos de comando. Ao mesmo tempo, revelou-nos a sua personalidade reservada e humilde, que o fez um homem admirado, mesmo por quem dele não tenha gostado, um brilhante comandante dos bombeiros.
Como escreveu o Dr. Duarte Caldeira, no prefácio para o livro da sua biografia - “O Comandante Carlos Cardoso” (2009), do Prof. Damas da Silva, é “um cidadão de medida grande”.
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